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A música na minha vida #6 - Um pouco da minha inspiração

Durante a minha vida, estive muito envolvida com a música... os meus pais insistiram em colocar-me na Academia de Música tinha eu 6 anos e, embora não fosse muito prendada, continuei os estudos na música até ao 8º grau. Não me considero uma excelente aluna, nem nada que se pareça, mas este tempo todo de escola musical deu-me bastante entusiasmo para que eu aplicasse aquilo que aprendi na minha vida e em novos projectos.


Os primeiros passos foram no grupo de jovens, onde ensinei os miúdos a tocar guitarra e onde fui responsável pela parte musical das actividades que fazíamos, inclusivé os acampamentos anuais. Nesta altura, adorava a Mafalda Veiga e ainda adoro o seu trabalho...a forma como escreve as suas letras e como compõe as melodias certas para o que transmite nelas. São palavras conjugadas em perfeição e que me fazem sentir mais intensamente quando as ouço na música que faz. Parece-me que sabe sempre o enquadramento perfeito. Na minha juventude, decorei imensas músicas suas e aprendi a tocá-las na guitarra. No grupo de jovens, a sua música fazia parte dos momentos lúdicos e dos acampamentos...ainda me lembro de cantarmos imenso o "Restolho" e "Pássaros do Sul"... nestes momentos o Zeca Afonso também tinha o seu cantinho na minha vida, pois aprendi muitas das suas canções com outros jovens mais velhos.  Entretanto, comecei a tentar escrever, mas nunca com ideias em fazer nada com isso.
Este gosto continuou e envolvi-me na Tuna da Faculdade, onde fui Magister. Agarrei um pouco a música popular e algumas canções do Zeca Afonso, que eram parte dos nossos concertos. Mais tarde criei um grupo de música tradicional  na ACDL, uma Associação Local, o grupo chamaria-se Vozes da Terra. Éramos todos jovenzinhos e partilhámos este gosto durante uns anos. 
Entretanto fui mãe e fiz uma pausa.... 
Foi na minha mudança para Inglaterra que voltei a ligar-me à música. O facto de estar distante do meu país fez-me mais interessada na música portuguesa e passei a animar os dias com uma nova playlist, onde incluí especialmente os Deolinda, OqueStrada, Ana Bacalhau a solo, Oquestrada, António Zambujo, Miguel Araújo, Salvador Sobral, Márcia, Luísa Sobral, Carolina Deslandes, Madredeus e Rodrigo Leão, entre outros músicos da nova geração. Para mim, este início de vida em Inglaterra mostrou-me outra visão da música e os OqueStrada foram uma maravilhosa descoberta, adoro os seus sons, as misturas que fazem que envolvem e apuram os meus ouvidos. Não parava de ouvir "Oxalá Te Veja", "O Teu Murmúrio" e "Se esta Rua Fosse Minha"... Os Deolinda adicionavam muito também às minhas viagens de carro no trabalho e acabei por decorar imensas letras :)

Foi neste sentido, que se despertou em mim a vontade de cantar de novo e quando tive esta oportunidade agarrei-a bem forte! Inicialmente criámos uma banda de covers e a nossa primeira canção foi dos Deolinda "Um Contra o Outro", depois introduzimos Fon-fon-fon, Movimento do Perpétuo Associativo, entre outras de autores Portugueses...Os Deolinda têm alta qualidade na composição musical e a sua música enche o coração, fazem-me querer cantar ... despertaram em mim a vontade de desenvolver mais este estilo, especialmente pelo facto de estar no estrangeiro isto foi mais forte do que eu  😉 costumo ouvir que esse tipo de música me assenta bem!
Talvez porque minha maior inspiração é o trabalho da Ana Bacalhau, não só como vocalista nos Deolinda, mas também na sua carreira a solo. Para mim é uma artista bastante completa, com uma forma muito terra-a-terra de cantar, alguém com quem me identifico musicalmente... Gosto de sentir a sua naturalidade na voz e a espontaneidade com que se apresenta e faz os seus espectáculos. As canções que apresenta têm muita força e falam sobre coisas simples, sobre uma forma intensa de se sentir a vida e que fazem todo o sentido em determinados momentos e experiências de vida. 
Nunca tinha cantado a solo, sempre cantei em "grupo" e este desafio ainda é um pouco assustador... Mas sim, estou a adorar redescobrir-me na música e tem sido um caminho muito especial. Questiono muitas vezes se o faço bem, mas penso que faz parte de qualquer pessoa querer sempre Ser melhor e evoluir. 


Quando canto, sinto que me posso expressar e dar aos outros um pouco de mim, momentos felizes...criar nas memórias positivas. Este é o lado mais especial de se fazer um espectáculo, o contacto com as pessoas, o estarmos todos no mesmo momento e a ligação que acontece entre todos os membros da banda. 
Adoro esta sintonia musical e emocional que se cria entre os membros e com o público 💖
Este trabalho musical tem sido um caminho crescente, a escrita de letras e a composição de melodias para as mesmas tem sido um belo desafio. Dar música ao que escrevo é uma forma de dar mais sentido às palavras, de envolver os nossos sentidos para buscar emoção e sentimento... ouvir, ver e imaginar trazem bastante felicidade às nossas vidas e fazem parte de momentos que nunca esqueceremos. 
Foto de Ricardo Vieira
Quando compomos uma música, ela tem que transmitir bem a mensagem e esse é o grande segredo. Para mim as músicas estão muito associadas a etapas da vida, a momentos bons ou maus, a lembranças e despertam sensações. Não há vida sem música 😍
Este processo começou num tom de brincadeira. Comecei a escrever letras e a compor melodias com o Paulo, o meu marido. A banda recebeu muito bem as ideias e abraçámos este caminho de produzir originais. 
Uma das canções falam sobre um bloquinho de notas, uma das minhas músicas favoritas. Escrevi esta letra em Novembro de 2018, há precisamente um ano, inspirada na ideia de ser um poeta. Queria lembrar a Florbela Espanca, que para mim é muito especial, uma mulher que apesar de todo o sofrimento e experiências difíceis, escreveu grandes obras. 

No Bloquinho de Notas, queria transmitir o sentimento da escrita e esta foi a minha homenagem... 


Bloquinho de notas

No seu bloquinho de notas
Escreve pequenos poemas
Num corrido de vocábulos 
Rimas que pairam no ar. 
São pedaços de uma alma 
Fragmentos de vidas 
Páginas de ilusões 
Palavras sentidas. 

São bloquinhos de notas 
De um poeta da vida 
Que cria paradigmas de amor 
Escritos a lápis de cor. 

São bloquinhos de notas, 
Viajantes no bolso de um sonhador. 


Quando canto esta canção, imagino um quarto a meia luz, uma caneta de aparo, uma grande poltrona e uma pequena mesa redonda... um momento de retiro do mundo. 

Se quiser experimentar encontrar este lugar, experimente ouvir a música que resultou deste trabalho...
Partilho aqui também o vídeo clip de homenagem ao Zeca Afonso feito a 25 de Abril de 2019...